Seletividade Alimentar: um problema em escalas

Existem vários conceitos relacionados à seletividade alimentar, mas é importante ressaltar que cada profissional habilitado tem sua própria definição do fenômeno. Por isso, convidamos a nutricionista infantil comportamental Micheane Cruz para explicar melhor o assunto.

Pela sua experiência, Micheane afirma que a seletividade alimentar ocorre quando uma criança recusa um ou mais grupos alimentares por diversas razões. Por exemplo, uma criança pode rejeitar proteínas devido a causas motoras, como hipotonia facial, e comportamentais. Com base nisso, é possível classificar a seletividade alimentar em diferentes graus, cada um refletindo um aspecto particular do comportamento alimentar da criança.

Graus da Seletividade Alimentar

Grau 1: Recusa Alimentar:  No primeiro grau, encontramos a recusa alimentar temporária. Isso ocorre quando uma criança recusa determinado alimento por um período, mas, eventualmente, volta a comer. Essa forma de seletividade alimentar pode estar associada a fatores transitórios, como mudanças de paladar, textura ou até mesmo o ambiente no qual a refeição é servida. É importante observar a recorrência dessas recusas e monitorar se a criança acaba por aceitar o alimento em algum momento.

Grau 2: Monotonia Alimentar: No segundo grau, a seletividade alimentar é caracterizada pela monotonia alimentar. Isso ocorre quando a criança apresenta uma preferência excessiva por determinados alimentos e, consequentemente, se recusa a experimentar novos alimentos. A falta de oportunidade de exposição a uma variedade de alimentos e a resistência em experimentar novos sabores e texturas caracterizam a monotonia alimentar. É importante trabalhar gradualmente na introdução de alimentos diferentes para ampliar o repertório alimentar da criança.

Grau 3: Múltiplas Causas: O terceiro grau de seletividade alimentar é o mais complexo, pois envolve múltiplas causas. Nesse caso, a criança apresenta uma combinação de fatores fisiológicos, motores, sensoriais, comportamentais e nutricionais que contribuem para sua aversão a uma variedade de alimentos. Essas causas podem incluir problemas de saúde, dificuldades motoras na mastigação e deglutição, hipersensibilidade sensorial, comportamentos seletivos e preocupações nutricionais. Crianças nesse grau de seletividade alimentar geralmente aceitam menos de 15 opções de alimentos diferentes, o que pode limitar significativamente sua ingestão nutricional.

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Quais os sintomas mais comuns da Seletividade Alimentar?

A nutricionista diz que os sintomas dependem das causas que levaram essa criança a parar de comer. Ela ressalta que nenhum caso de Seletividade Alimentar é igual aos outro, até porque cada criança é única. Além disso, o diagnóstico da seletividade alimentar só pode ser feito depois que a criança teve a oportunidade de conhecer os alimentos e aprendeu a comer. Antes disso, não se pode dizer que a criança é seletiva, pois ela não aprendeu a comer.

De uma maneira geral, os sintomas mais comuns são: a própria não aceitação de novos alimentos, comportamentos de birra, choros, empurrar o prato, fugir da mesa, em alguns casos, a criança tem medo dos alimentos (neofobia), não tolera determinados alimentos por uma disfunção sensorial, perda de peso, deficiência nutricional, entre outros.

Micheane aponta que comer é uma habilidade que aprendida e é muito difícil. “Não lembramos desse aprendizado e nossos pais nos ensinaram com o conhecimento que eles tinham na época. Hoje, temos ferramentas e conhecimentos que facilitam para ensinar nossos filhos a comerem e quanto mais cedo ensiná-los a comer, melhor será para prevenir a seletividade alimentar.”

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Abordagem Multidisciplinar

Micheane lembra que a criança não é obrigada a comer tudo que é oferecido, que a criança tem preferências alimentares e o apetite é variável. Entretanto, é preciso ter um olhar atento para perceber o que é um comportamento esperado e o que é um problema que precisa de ajuda.

Lidar com a seletividade alimentar requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais especializados, como nutricionistas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e psicólogos. Essa equipe de profissionais pode ajudar a identificar as causas da seletividade alimentar e desenvolver estratégias adequadas para ajudar a criança a superar suas dificuldades alimentares.

Paciência, persistência e orientação correta são o caminho para superar a seletividade alimentar. Os pais e cuidadores desempenham um papel fundamental no processo. Eles são responsáveis por fornecer um ambiente alimentar positivo, oferecer uma variedade de alimentos saudáveis e incentivar a exploração de novos sabores e texturas.

Em resumo, a seletividade alimentar é um desafio que muitas famílias enfrentam, mas com o apoio adequado e a compreensão dos diferentes graus dessa condição, é possível ajudar as crianças a desenvolver uma relação saudável e equilibrada com a alimentação. Lembrando que cada caso é único, a busca por profissionais especializados e o acompanhamento contínuo são fundamentais para garantir o bem-estar e a nutrição adequada das crianças seletivas em relação aos alimentos.

 

 

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Escrito por Daniela Foltran

Sou mãe de 3 meninas e 1 coelho. Cresci no sítio e vim sozinha para a selva de pedra. Defendo a amamentação e o fortalecimento dos vínculos. Acredito no desenvolvimento pleno da criança, no valor das oportunidades de experimentar cores, texturas, aromas e sabores. Luto pelo comer e brincar livremente sem sobrecarregar quem cuida, sem aumentar o trabalho e os cestos de roupas sujas. Minha missão? Espalhar autonomia e ajudar com o trato da a bagunça que todo esse aprendizado causa.
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